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Automobilismo

Dois pilotos, dois mundos diferentes – não existe vilão e mocinho aqui

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Hamilton e Verstappen

O Grande Prêmio do Brasil é um evento singular para os amantes tupiniquins do automobilismo. Interlagos é a Meca do esporte a motor no nosso país, local desejado por todos. A Fórmula 1 sempre traz lembranças douradas para os brasileiros com as biografias dos nossos três campeões, e não é diferente quando os gênios desse esporte desfilam nos 4309m de uma pista fantástica.

Não é difícil apontar os dois gênios da atual F1. Lewis Hamilton e Max Verstappen polarizaram conquistas, champanhes, holofotes e corações nas últimas temporadas. Um é um heptacampeão já consagrado como um dos maiores de todos os tempos. O outro, um jovem bicampeão com potencial de chegar na prateleira das lendas.

Mas ambos guardam diferenças notáveis. A chegada dos dois ao Brasil exemplifica bem os mundos diferentes dos dois pilotos.

Hamilton recebeu o título de cidadão honorário pela Câmara dos Deputados. O motivo: carregar a bandeira brasileira após vencer o GP do Brasil de 2021. Foi a corrida na qual ele deu show ao escalar o pelotão intermediário e exemplificar o talento absurdo de uma lenda. Por essas e outras, Hamilton é amado e paparicado pela maior parte do público brasileiro, desde fãs até jornalistas.

Verstappen chegou no Brasil sem nenhuma pompa. É uma característica do seu jeito nada marqueteiro ser pouco afeito aos holofotes que cercam a F1. Por aqui, ele tem muitos fãs e admiradores, mas também angariou uma horda de haters ao polarizar com Hamilton. A maior parte da imprensa também não é muito simpática a ele, o que contribui com a imagem arrogante pintada por ela.

Não é apenas no Brasil que Verstappen tem de lidar com isso. Mas ele não a mínima para o show business da categoria. O que importa é derrotar os adversários na pista, buscar a vitória a qualquer custo e melhorar mais e mais. Aos adversários e haters, resta o arsenal de velhas desculpas. Questionado sobre a sua agressividade, Verstappen disse não se importar com o que dizem dele e que a sua pilotagem não irá mudar por isso. É a postura de um campeão com sangue nos olhos.

Quanto a Hamilton, ele já provou o que tinha de provar para todo mundo. É o piloto com mais títulos na F1 – ao lado de Michael Schumacher – e dono de quase todos os recordes. Não precisa guiar no fio da navalha, tampouco passar pelo estresse de outros tempos. Ele esbanja carisma e atitudes simpáticas, conquistando inúmeros fãs pelo mundo inteiro. A experiência de um multicampeão certamente ajudou em tal processo, mas o jovem Hamilton da McLaren não agia de maneira diferente – é o que sempre foi.

Em suma, são dois gênios de personalidades diferentes. Porém, acima de qualquer coisa, são humanos. Humanos têm defeitos e qualidades.

Canonizar um e vilanizar o outro são atitudes de quem não consegue compreender como a vida é. A F1 é um mundo difícil, por vezes impiedoso e quase sempre frio. As oportunidades são escassas e justiça é uma palavra ausente no dicionário da categoria. Se determinado piloto não é um popstar e não aparece nas páginas de entretenimento com um largo sorriso no rosto, isso não quer dizer que ele é um fascista vilão de gibi – como já algumas pessoas tacharem Verstappen. O contrário também é verdadeiro: se o piloto gosta do lado marqueteiro da coisa, não é por falsidade ou algo do tipo – acusação comumente feita a Hamilton.

No último GP do Brasil, ambos protagonizaram uma corrida com todos os bons predicados possíveis, em uma disputa sensacional. Verstappen vinha de vitórias nos Estados Unidos e no México, com um novo triunfo significando uma mão e meia na taça. Com uma Mercedes patinando, Hamilton teria de operar um milagre depois de punições acumuladas. Mas um heptacampeão conhece todos os caminhos. Ele escalou o fundo do grid na sprint race, fez o mesmo com o pelotão intermediário na corrida e ultrapassou seu grande rival a poucas voltas do final para vencer magistralmente. Foi uma de suas melhores atuações.

O público foi ao delírio quando Hamilton pegou a bandeira brasileira. Foi uma das cenas mais impactantes da história da F1, certamente um belíssimo espetáculo. As vaias para Verstappen no pódio não foram belas de maneira alguma. Isso irá se repetir este ano, infelizmente. Não tenho a menor dúvida.

Como jornalista – e eu já disse isso – não sou pago para falar bem de Verstappen ou de quem quer que seja. Eu falo o que penso e para quem considerar as minhas visões relevantes. Demonizar alguém que não se tem o menor contato próximo ou nada fez para merecer isso é uma atitude ridícula. Os dois supracitados não merecem tal coisa. E no que depender da minha humilde atividade jornalística, não darei qualquer contribuição nesse sentido. Saibamos diferenças as coisas e quem é quem.

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